Oito bebês saudáveis nasceram no Reino Unido usando uma técnica inovadora de FIV que incorpora material genético de três pessoas para evitar a transmissão de doenças mitocondriais graves, de acordo com pesquisa publicada hoje no New England Journal of Medicine. A técnica, chamada de transferência pronuclear, reduziu com sucesso as mutações causadoras de doenças em 95-100% em seis das crianças e em 77-88% nas duas restantes.
O marco representa os primeiros resultados clínicos do único programa licenciado no mundo para doação mitocondrial, oferecendo esperança a famílias com risco de transmitir condições genéticas incuráveis que afetam aproximadamente um em cada 5.000 nascimentos
Sucesso Clínico Mostra Esperança para Famílias
Os oito bebês — quatro meninos e quatro meninas, incluindo gêmeos idênticos — nasceram de sete mães no Newcastle Fertility Centre entre 2017 e 2023. Todas as crianças estão atingindo marcos normais de desenvolvimento e não apresentam sinais de doença mitocondrial do DNA, que pode causar enfraquecimento muscular, perda de visão e falência de órgãos.
"Como pais, tudo o que sempre quisemos foi dar ao nosso filho um começo saudável na vida", disse a mãe de uma das meninas, falando anonimamente. "A fertilização in vitro por doação mitocondrial tornou isso possível".
A técnica envolve a transferência do DNA nuclear dos óvulos fertilizados dos pais para óvulos doadores com mitocôndrias saudáveis, substituindo efetivamente as “usinas de energia” celulares que carregam mutações causadoras de doenças. O Professor Sir Doug Turnbull, da Universidade de Newcastle, que ajudou a desenvolver o tratamento, chamou isso de “nova esperança” para as famílias afetadas.
O Reino Unido tornou-se o primeiro país a legalizar a doação mitocondrial em 2015, após uma extensa revisão ética. A tecnologia continua sendo controversa e é proibida nos Estados Unidos, onde líderes religiosos se opõem à destruição de embriões necessária para o procedimento.
A Austrália está desenvolvendo seu próprio programa, com o ensaio mitoHOPE recebendo 15 milhões de dólares em financiamento do governo para iniciar ensaios clínicos no próximo ano. "O nascimento de oito bebês com risco muito reduzido de desenvolver doenças do DNA mitocondrial oferece esperança para aqueles que aguardam acesso à doação mitocondrial", disse o Professor John Carroll, que lidera o programa australiano.
No entanto, a técnica enfrenta limitações. Apenas oito das 22 mulheres que passaram pelo tratamento engravidaram, representando uma taxa de sucesso de 36%. Três bebês ainda carregam pequenas quantidades de DNA causador de doenças, embora os níveis permaneçam bem abaixo do limite para sintomas clínicos.
"Embora o acompanhamento a longo prazo das crianças nascidas após a doação mitocondrial seja de suma importância, esses primeiros resultados são muito animadores", disse o Professor Bobby McFarland, diretor do serviço de distúrbios mitocondriais do NHS.
A doação mitocondrial, especificamente a técnica de transferência pronuclear (PNT) utilizada em Newcastle, envolve a substituição do DNA mitocondrial defeituoso no óvulo fertilizado da paciente por DNA mitocondrial saudável de um óvulo doador. Durante o procedimento, tanto a paciente quanto a doadora passam por estimulação ovariana para produzir múltiplos óvulos, que então são fertilizados. O material genético nuclear do óvulo fertilizado da paciente